Trabalhadores do Sistema Socioeducativo emitem Nota de Repúdio à tentativa do Conanda de prejudicar a categoria
Uma Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Crianças e do Adolescentes (Conanda) está causando alvoroço entre os servidores do Sistema Socioeducativo, e já recebeu até Nota de Repúdio da Federação Nacional dos Trabalhadores do Sistema Socioeducativo (Fenasse).
A Fenasse entende que se a tal Resolução for colocada
em prática, vai prejudicar bastante o trabalho dos servidores, em detrimento da
qualidade dos serviços desempenhados dentro dos Núcleos de Internações, onde os
adolescentes e jovens autores de atos infracionais análogos a crimes (estupro,
tortura, assalto com arma de fogo, roubo, assassinato, dentre outros) cumprem
medidas socioeducativas.
A Resolução que o Conanda quer aprovar é para, supostamente,
“estabelecer diretrizes e parâmetros de atendimento socioeducativo, garantindo
a proteção integral dos direitos de adolescentes em privação de liberdade no
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo”.
Mas a Fenasse, que representa
milhares de servidores do setor, assegura que o documento em questão trará prejuízos para os servidores do
Sistema Socioeducativo.
CARTA DE REPÚDIO CONTRA MINUTA DE RESOLUÇÃO DO CONANDA SEM A DISCUSSÃO COM A REPRESENTAÇÃO DOS TRABALHADORES DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO.
A Federação Nacional dos Trabalhadores do Sistema
Socioeducativo – FENASSE, representante dos profissionais do sistema socioeducativo
de todo o país, em nome de suas entidades filiadas vem externar todo o seu
repúdio quanto a uma articulação que está sendo feita pelo Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA. De maneira totalmente
antidemocrática, o CONANDA quer impor, à sua maneira e sem ouvir ou consultar
quem faz o sistema socioeducativo acontecer, uma nova resolução que visa
transformar o sistema socioeducativo em um sistema totalmente deslocado da
realidade que vivemos diuturnamente nas unidades socioeducativas de todo o
país.
Na minuta ao qual tivemos acesso, o CONANDA ignora,
mais uma vez, o eixo “segurança”, que é o que garante a estabilidade necessária
para que toda a comunidade socioeducativa possa exercer suas funções com
segurança, inclusive a segurança dos próprios internos.
Como trabalhadores do Sistema Socioeducativo, o
sentimento é que o CONANDA está totalmente desconectado da realidade. Como
exemplo de desconexão total, vê-se que na minuta consta a proibição de qualquer
equipamento de proteção individual como spray, tonfa e demais equipamentos que
visam à contenção caso necessário. E hoje eles são sempre usados, quando há
casos excepcionais, buscando assim a proteção tanto dos operadores da segurança
socioeducativa como da segurança dos próprios internos, quando nos deparamos
com tentativas de homicídio ou de motins.
Em outra parte do documento, fica proibido o uso de
uniformização por parte dos servidores que, segundo o CONANDA, “Deve ser
proibido o uso de vestimentas que as assemelham àquelas utilizadas no sistema
penal ou pelas forças armadas, a fim de preservar o caráter educativo e não
punitivo das unidades”. Isso demonstra talvez a falta de conhecimento do
caráter educativo e também do sistema penal. O CONANDA ignora o fato de que
uniformizar nossos servidores com fardamento remete à ideia de organização e
diferencia servidores de internos, além de promover a sensação de pertencimento
à carreira. O CONANDA parece acreditar que o zelo pelo conforto dos Agentes de
Segurança do Sistema Socioeducativo possa ser algo danoso, mas temos
experiência de anos a fio onde se mostra comprovado que toda ação que organizou
e diferenciou os servidores como são, ou seja, operadores de segurança pública,
se mostrou totalmente eficaz. Além disso, nos estados da federação que se
mantiveram distantes desse movimento, a desorganização e o elevado número de
ocorrências que envolvem a falta de disciplina é constante.
Outro ponto da minuta totalmente desconectada da
realidade é a parte que trata das escoltas, proibindo que os veículos sejam
caracterizados. Tal ação provoca uma total insegurança dos internos em
deslocamentos externos. O CONANDA não deve saber, ou fecha os olhos para essa
realidade, que nosso público possui, além de alto grau de envolvimento com o
mundo do crime, diversos problemas de richas entre grupos rivais, por serem
membros e muitas vezes líderes de facções criminosas. E, como profissionais,
devemos zelar pela segurança dessas escoltas, sendo necessário termos um
aparato de identificação para promover maior fluidez no trânsito a fim de
resguardarmos a integridade física deles e a dos agentes, vindo a minimizar a
possibilidade de atentados contra a vida dos socioeducandos como já ocorrido em
algumas ocasiões.
Verifica-se, dessa forma, um total desconhecimento do
CONANDA acerca do que realmente é o sistema socioeducativo. Com isso, podemos
comprovar que, tanto para o ministério público como para o judiciário, nossa
atividade é considerada como atividade policial, relacionada ou similar à
Segurança Pública.
Sendo assim, consideramos a conduta do CONANDA
totalmente antidemocrática, deixando de ouvir quem executa as medidas
socioeducativas dia e noite, dentro das unidades de atendimento socioeducativo,
visto que os agentes sofrem ameaças de mortes, agressões físicas. Pois, muitas
vezes, eles pagam com a própria vida por tentar desenvolver um trabalho de
segurança de toda a sociedade, sempre atendendo a uma ordem judicial para o
cumprimento de medida socioeducativa, seja de internação, de semiliberdade ou demais
medidas previstas no SINASE. Então, o mínimo que se espera de uma instituição
que diz que zela pela garantia de direitos é que ela ouça e tente compreender
as demandas e angústias de todos os atores envolvidos em todo o processo de
justiça juvenil.
Enquanto representantes dos trabalhadores do sistema
socioeducativo, não iremos aceitar que prosperem determinações que já se
mostram, na prática, totalmente ineficazes e que buscam discriminar e oprimir
toda uma classe trabalhora.
Cobraremos também um posicionamento firme por parte do
FONACRIAD quanto essa interferência do CONANDA que está indo contra a tentativa
de profissionalização da Segurança Socioeducativa promovida pelos estados da
Federação.
Desse modo, estamos dispostos a ajudar os órgãos
gestores do sistema socioeducativo, para que juntos possamos sempre ir em busca
de modernizar, fortalecer e, principalmente, profissionalizar todos os eixos
que permeiam a comunidade socioeducativa, pois só assim podemos trazer o melhor
para os socioeducandos e promover a total reinserção de todos eles na
sociedade.
Fonte: Da Redação, com
informações da Fenasse. Imagens: Divulgação/Fenasse.
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