Ministério Público exige regularização do transporte público coletivo em Santana (AP)
“Estamos há mais de dois meses sem parada de ônibus, no Jardim de Deus 2, na rodovia Duca Serra”, diz uma moradora do bairro. O Jardim de Deus 2 é um bairro da zona Norte de Santana (AP), com acesso pela rodovia Duca Serra.
O único abrigo de passageiros que
servia à região foi destruído por um motorista embriagado que perdeu o controle
do carro ao trafegar pela rodovia.
Desde então os moradores aguardam o
ônibus Santana/Macapá ao relento, sob o sol causticante ou abrigados embaixo de
uma árvore, junto à rodovia.
A reclamação da moradora é a mesma
dos demais habitantes do lugar, e comprova o que o Ministério Público do Amapá (MP-AP)
também constatou: a carência de transporte coletivo de passageiros na segunda
maior e mais importante cidade do Amapá.
Esta semana, o Ministério Público do Amapá, por meio da promotora
de justiça Elissandra Toscano, titular da Promotoria de Defesa do Meio
Ambiente, Conflitos Agrários, Habitação e Urbanismo de Santana, ajuizou Ação
Civil Pública (ACP) exigindo que o gestor municipal e a Superintendência de
Trânsito e Transporte de Santana (STTRANS) realizem, com urgência,
implementação do transporte público rodoviário coletivo no município, após os
estudos técnicos necessários. A ação aponta a precariedade no sistema atual,
que possui apenas o transporte intermunicipal, em total ausência de
regulamentação, e pede a regularização do serviço, seja por meio da prestação
direta pela administração municipal ou pela concessão via licitação.
Segundo a promotora, a situação do transporte coletivo em Santana é
crítica.
“O município não conta com um sistema formal de transporte
rodoviário intramunicipal e necessita de base de dados confiável. As poucas
medidas adotadas até o momento foram meramente empíricas, sem qualquer planejamento
técnico, o que prejudica diretamente a população que depende de um serviço
essencial e eficiente”, afirmou.
A ação solicita que sejam realizados, de forma imediata, os estudos
de demanda e modelagem do serviço de transporte público, baseados no modelo
clássico de planejamento em quatro etapas: geração de viagens, distribuição de
viagens, divisão modal e alocação de viagens. Esses estudos são fundamentais
para que o poder público municipal tenha condições de entender o comportamento
da demanda e as reais necessidades da população local, permitindo assim, a
prestação de um serviço eficiente, seguro e acessível.
ENTENDA A AÇÃO
De acordo com o inquérito civil, o transporte público de Santana
enfrenta há anos uma falta de regulamentação efetiva. Mesmo com algumas
iniciativas anteriores, como mencionado em ofícios de 2023 e 2024, os
resultados concretos não foram apresentados à sociedade. O Ministério Público
aponta que os gestores municipais vêm postergando a resolução do problema, o
que gera prejuízos à mobilidade urbana e à qualidade de vida dos cidadãos.
A Ação Civil Pública busca corrigir essa omissão, garantindo que o
juíz segundo maior município do Estado tenha um sistema de transporte público
que atenda às exigências legais de eficiência, segurança, continuidade e
modicidade tarifária, conforme previsto na legislação brasileira (Lei nº
8.987/1995).
Além disso, o MP-AP destaca a urgência na tomada de providências.
“Os gestores municipais têm se omitido em executar os atos administrativos mais
básicos de sua competência. A regularização do transporte público
não pode mais ser adiada, e os estudos de demanda e
modelagem são a primeira etapa indispensável para uma solução concreta”,
pontuou a promotora. A ação ainda ressalta que esses estudos são vitais para
definir a forma de prestação de serviço – diretamente pelo município ou por
delegação a terceiros.
A tutela de urgência solicitada na ACP requer que o poder público
municipal apresente, no prazo de 30 dias, o termo de referência para a
elaboração dos estudos e, em até 180 dias, os resultados completos. Caso as
medidas não sejam adotadas dentro dos prazos estabelecidos, solicita a
aplicação de multa diária aos responsáveis.
Conforme apontado na petição, o levantamento deve incluir dados
socioeconômicos e demográficos, além de pesquisas de campo que possam embasar
decisões sobre o planejamento das linhas de ônibus, horários, capacidade de
frota e tarifas. Além disso, a ação prevê que o modelo de concessão do serviço
seja elaborado com base em critérios claros de desempenho e avaliação, com
prazos definidos para a execução do projeto e acompanhamento rigoroso pela
STTRANS.
Elissandra Toscano destaca a importância de que esse processo de
regularização atenda às necessidades da população de forma eficiente e
transparente. “Nosso objetivo é garantir que os cidadãos e cidadãs de Santana
tenham um transporte público digno, acessível e que funcione de maneira eficaz.
Estamos agindo para assegurar que o município cumpra seu dever constitucional
de prestar esse serviço essencial”, concluiu.
A ACP pede, ainda, que o município apresente um cronograma de
atividades para a regularização do serviço, observando as condições legais e
técnicas adequadas para a gestão ou concessão do transporte público rodoviário
intramunicipal, sob pena de novas sanções em caso de descumprimento.
Fonte: Da Redação, com informações do MP-AP. Imagem: Divulgação
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